São Paulo acaba com piada da Copa do Brasil e empurra ‘pressão’ para o Palmeiras

Título do mata-mata nacional era o único que faltava para o clube do Morumbi; rival segue em busca do Mundial de Clubes da Fifa

Gledston Tavares/SPP/Reuters
Com gol de Rodrigo Nestor, São Paulo conqusitou a Copa do Brasil pela primeira vez

Tricampeão da Libertadores, também tri mundial e vencedor de seis Brasileiros, o São Paulo é dono de uma invejável coleção de troféus. Com 12 títulos internacionais, encabeça a lista de clubes brasileiros com mais taças conquistadas além das fronteiras nacionais. No entanto, faltava na galeria tricolor a Copa do Brasil. Em 2000, o Tricolor chegou perto, mas uma virada do Cruzeiro no fim do jogo impôs ao clube do Morumbi uma de suas derrotas mais dolorosas. A espera pelo mata-mata nacional valeu a pena: em sua campanha, o São Paulo eliminou os maiores rivais (Palmeiras e Corinthians), desbancou o milionário Flamengo na decisão e fez a festa de mais de 60 mil torcedores no Morumbi.

Foi o fim de uma piada que incomodava os tricolores, apesar do passado glorioso. Afinal, até clubes como Juventude, Santo André e Paulista já haviam ganhado a Copa do Brasil. É verdade que o Tricolor esnobou a competição no começo dos anos 1990, quando a equipe comandada por Telê Santana só queria saber da Libertadores. Mas as 22 participações anteriores registraram eliminações traumáticas, como o vice em 2000. Dois anos depois, o Tricolor chegou à semifinal, mas foi eliminado pelo Corinthians em uma espécie de final antecipada. Na decisão, o rival venceu o Brasiliense e se sagrou campeão.

Com o título conquistado neste domingo, 24, o Tricolor acaba com uma piada recorrente para corintianos, palmeirenses, santistas e até torcedores de outros Estados. Agora, entre os 12 grandes do futebol brasileiro, apenas o Botafogo não tem a Copa do Brasil. No futebol paulista, sobrevive apenas a piada de que o Palmeiras “não tem Mundial”. Os alviverdes bradam que 1951 teve o mesmo peso de um campeonato mundial, mas, apesar de alguns acenos, a Fifa nunca foi categórica. Apesar da fase dourada, o Verdão tem agora esse fardo para carregar após o título do rival.

Relembre alguns “memes” do futebol brasileiro

Atlético-MG

Embora tenha se sagrado campeão da Conmebol duas vezes, os adversários do Galo diziam que o clube nunca havia conquistado o mesmo título duas vezes. O torneio intercontinental era ignorado porque nunca esteve na primeira prateleira do futebol sul-americano. Mas os títulos do Brasileiro e da Copa do Brasil, em 2021, acabaram com a piada. Com um time recheado de craques, liderado por Hulk, o alvinegro de Belo Horizonte disparou no torneio de pontos corridos e superou o Athletico-PR na decisão do mata-mata.

Botafogo

Os botafoguenses ficam furiosos quando ouvem que o clube não passa de um bairro do Rio de Janeiro, mas nada incomoda mais do que o jejum de 28 anos sem um título nacional. Já faz bastante tempo que o time de Wagner, Wilson Gottardo, Donizete Pantera e Túlio Maravilha conquistou o Brasileirão. De lá para cá, o Fogão perdeu protagonismo nacional e chegou a ser rebaixado três vezes, em 2002, 2014 e 2020. Neste ano, o Glorioso lidera o Nacional e espera sair da fila.

Cruzeiro

A queda do Cruzeiro, após anos de glórias, foi uma surpresa no futebol brasileiro. A Raposa contava com bons jogadores no Brasileiro de 2019, mas o caos causado por uma diretoria que pouco se preocupava com a saúde financeira do clube levou um dos gigantes do Brasil para o abismo. Tanto é que os mineiros amargaram três anos na Série B até conseguirem voltar para a elite. O estrago causado pela diretoria virou sinônimo de má gestão. Hoje, dizem que os clubes que gastam mais do que podem e colocam a equipe em risco vão “cruzeirar”.

Corinthians

Por muitos anos, o torcedor corintiano ouviu nos clássicos que “Libertadores o Corinthians nunca viu (e nem vai ver)”. A gozação começou em 1999, quando o Palmeiras se tornou campeão e deixou o grande rival como único grande paulista que nunca havia ganhado o título continental. O tabu parecia afetar o clube, eliminado traumaticamente em diversas edições. Mas, em 2012, Tite levou o Timão ao título continental e libertou a Fiel. Por outro lado, o Alvinegro nunca mais conseguiu repetir o sucesso da equipe de Cássio, Paulinho e Emerson Sheik. Agora, os rivais dizem que o Corinthians é o Once Caldas de Itaquera (referência ao nada tradicional clube colombiano que também tem um título da Libertadores).

Flamengo

Em 2016, torcedores do Flamengo começaram a alardear que estavam sentindo o “cheirinho” do título brasileiro. O campeão, no entanto, foi o Palmeiras, e a expressão “cheirinho” acabou virando sinônimo de fracasso. O incrível ano de 2019 parecia ter enterrado esse Mengão que ficava no quase, mas, em 2023, a piada voltou com força. O Fla começou a temporada perdendo a Supercopa do Brasil para o Palmeiras — hoje seu maior rival interestadual —, caiu para o Independiente del Valle-EQU em pleno Maracanã na Recopa Sul-Americana e tomou uma lavada do Fluminense no Carioca. Com o título do Brasileirão cada vez mais distante, a Copa do Brasil era a tábua de salvação, mas o time comandado por Sampaoli não foi páreo para o São Paulo.

Fluminense

O Tricolor carioca é o único clube do Rio de Janeiro sem um título sul-americano, como até os botafoguenses, campeões da extinta Copa Conmebol, fazem questão de ressaltar. Em 2008, o Flu teve uma grande chance para entrar no rol de campeões da Libertadores, mas a derrota nos pênaltis para a LDU, do goleiro Cevallos, atormenta os torcedores do clube até hoje. “Pena que o Cevallos defendeu”, ironizam os rivais, quando querem provocar. Nas semifinais da Libertadores deste ano, o Fluminense espera acabar com a piada de não ter uma competição sul-americana em sua galeria de troféus.

Grêmio

Em maio de 2016, Eduardo Sasha fez um gol decisivo para o Inter na decisão do Gauchão e dançou valsa com a bandeirinha de escanteio do Beira-Rio. Era uma alusão aos 15 do Grêmio sem um título nacional, piada que até rivais fora do Rio Grande do Sul reproduziam nesta era em que as redes sociais encurtam as fronteiras. O episódio, no entanto, parece ter dado força ao Imortal. No mesmo ano, o Grêmio venceu o Atlético-MG na decisão da Copa do Brasil e encerrou o incômodo jejum.

Internacional

“Edenílson… Quarenta e um anos… É do Inter”. A narração de Gustavo Villani na última rodada do Brasileirão de 2020 poderia ter sido histórica, mas, como o VAR apontou impedimento, virou um meme. O gol de Edenílson contra o Corinthians tiraria o título do Flamengo e levaria o Colorado ao primeiro lugar do Nacional após mais de quatro décadas. Como o Internacional seguiu sem dar a volta olímpica do Campeonato Brasileiro, a fila agora está em 44 anos. Neste ano, o clube está longe do Botafogo, líder do Nacional, mas ainda sonha com o título da Libertadores.

Palmeiras

Nem um dos clubes mais vencedores dos últimos anos escapa da tiração de sarro dos rivais. Sob o comando de Abel Ferreira, o Palmeiras ganhou quase tudo o que disputou. Faltou o Mundial, espécie de calcanhar de Aquiles do clube. Na primeira chance que teve nesta era de ouro, em 2020, o Verdão foi mal e caiu logo na estreia, contra o Tigres-MEX, nas semifinais. No ano seguinte, voltou ao torneio e fez papel muito mais condizente com a tradição do clube. Na final, teve momentos em que foi melhor que o Chelsea, mas um pênalti de Luan na prorrogação acabou com as chances palestrinas. O Palmeiras ainda alega que a Copa Rio 1951 tem peso de Mundial, mas a Fifa nunca deu resposta definitiva, para alegria dos rivais.

Santos

A gloriosa história do clube que teve Pelé faz com que as glórias do Peixe não sejam contestadas. Resta para os rivais tirarem sarro da torcida alvinegra, que não costuma frequentar a Vila Belmiro com assiduidade. O Peixe é frequentemente descrito como um clube sem torcida ou com uma torcida envelhecida. No primeiro turno, segundo dados da CBF, o Santos teve apenas a 17ª maior média de público do Brasileirão, com 10.846 torcedores por jogo.

São Paulo

A Copa do Brasil era o argumento dos rivais para caçoar dos são-paulinos. O clube tem três Libertadores, três Mundiais e seis Brasileiros, mas faltava o torneio de mata-mata na galeria. “O São Paulo”, nunca ligou para o torneio, diziam os torcedores, em uma meia-verdade. Na época áurea de Telê Santana, o torneio nunca foi tratado como prioridade. Mas, a partir dos anos 2000, o Tricolor jogou a Copa à vera, com direito a uma dolorosa derrota na final de 2000 e uma incômoda eliminação para o Corinthians, em 2022.

Vasco

O tradicional clube do Rio de Janeiro tem machucado sua torcida com um período nada glorioso. Desde 2008, o Vasco caiu quatro vezes para a Série B, um fato usado pelos rivais como provocação. Tanto é que hoje ninguém se surpreende quando este gigante briga contra o descenso, como é o caso novamente neste ano. Apesar da boa fase recente, o Cruzmaltino ainda está na zona de rebaixamento. A torcida, no entanto, não abandona o clube. A goleada por 5 a 1 contra o Coritiba, na última quinta-feira, foi celebrada como título. Os rivais veem exagero. Mas os vascaínos se sentiram orgulhosos e confiantes de que evitarão uma nova mancha na história alvinegra.